11.11.06

Sentido Voador

Levanta as asas e voa anjo. Pois és perfeito, feliz e altruísta. Sorri, pois para ti o mundo é belo. Os teus olhos são grandes. Olhas para todo o lado como se fosses criança curiosa. Sorris, pois és feliz. Levanta os braços anjo, e abraça o mundo. Dança comigo anjo. Leva-me para esse teu mundo azul e plano. Deixa-me agarrar a tua mão e leva-me contigo. Bate essas asas brancas e faz de mim um anjo. Limpa-me de cicatrizes e de defeitos. Leva-me para esse mundo belo e voador. Leva-me para onde quiseres. Faz-me respirar nessas nuvens gigantes. Abraça-me anjo. Explica-me o que é o mundo. Faz-me o ser mais feliz do mundo. Beija-me anjo. Faz-me feliz anjo imaculado.
Temo por ti anjo. E se te cortam as asas? Terão os teus anjos amigos, alguma maneira de te trazer de volta. Ou serás tu enterrado abaixo do solo como um renegado? Não, fiques triste anjo. Caíste a Terra e não consegues voar. Os teus anjos amigos ainda sorriem, como tu. Voam para a Terra para te abraçar, beijar e te levarem para um dança que só eles sabem. Todos sorriem, todos cantam. São anjos alegres, de olhos abertos para o mundo belo que admiram. Caíste para terra mas não estas triste. Cortaram-te as asas anjo. Mas és um ser perfeito e belo. Não voas mas existes. E isso, ninguém te tira.
Ah, anjos voadores, levem-me convosco. Agarrem-me e não me deixem fugir. Levem-me nos vossos braços e deixem-me dormir, abraçado a vossos. Rodeado pela vossa felicidade e bênção. Sinto-me bem. Amado e feliz. Cantem me uma melodia de anjos e façam me esquecer o meu mundo, nem que por minutos. Adeus anjos. Pois, não sou o único a precisar de ser amado. Cuidem de quem mais sofre. Obrigado pela viagem, um abraço e até a próxima vez que me poderem ver, aqui na Terra, fechado no meu pequeno mundo redondo. A espera, a espera de voar convosco. A espera de ser anjo.
MJCC (11/12.10.06) Anjo por um dia, ser humano toda a vida

6.11.06

Vida Pessoal

A criança olha-se ao espelho. A sua cara é pequena e inocente. Lágrimas caem dos seus largos olhos negros. Nunca foi amada. Nunca sobe o que é ser feliz. Todos os dias lhe batem. Todos os dias lhe cortam pouco a pouco a sua inocência. Lágrimas negras caem dos seus olhos. Não há razões para a ser feliz. Nos seus braços brancos nódoas negras surgem, dia após dia. São o seu cancro. São o custo da sua infelicidade. São o seu tabaco, a sua droga. Nunca lhe abraçaram. Nunca adormeceu em braços protectores. Nunca foi amada. E dia após alguém a viola. Alguém a maltrata e abusa do seu corpo infeliz.
È jovem esta criança. Não deseja ser rica ou famosa. Apenas quer ter uma amiga. Deseja ter uma criança com quem possa brincar. Alguém real, que não um boneco sujo e roto. Alguém real, que não um fruto da sua imaginação. Alguém real, que não a sua consciência. As vezes sonha em estar numa escola, em ter amigos, em ter alguém com quem falar, abraçar, amar. Sonha um dia, um só dia, poder ser feliz. Poder ter uma recordação alegre. O seu maior desejo é ter uma foto de alguém que a ame. Uma memória eterna de um momento feliz.
E contudo não tem. Contudo é infeliz. É doente. É impossível. E quando todos lutam para viver a sua única vida neste mundo, ela luta por morrer. Duma forma dolorosa ou não, desde que morra. È tudo aquilo que deseja. È uma morte. Por favor ela só quer morrer. Deixam-na morrer!
Ela chora. Pois hoje acabou e o amanhã traz novas violações, novas dores, novas tristezas. E ela não consegue sonhar. Adorava poder sonhar. Adorava poder fugir deste mundo. Mas não sabe sonhar. Bastam-lhe lágrimas negras de sofrimento e falta de amor. Basta-lhe ser violada e ser usada. Basta-lhe ser espancada e assassinada.
MJCC (06.11.06) Consciência usada e violada por um mundo azul

2.11.06

Rastejar inseguro

Sentimento de culpa. Falta de sentido. Peço por mais.
A minha consciência cai. Por corredores negros, corro desesperado. A falta de razão. O medo da prisão. O meu mundo confuso. Rastejo para uma saída. A minha alma escurece. Morro lentamente. Pois já não me sinto confortável. Esta falsa segurança. Esta imagem translúcida de quem sou. Quero mais! Os meus defeitos marcam o meu reflexo. Sei que não devia ser assim. Sei que sou mais que tudo o que me corrompe. Mas não sou capaz. Trocava o ser poeta, por um dia ser ignorante. Preferia ser um idiota feliz, do que pseudo-intelectual. Cheguei a conclusão final. Ao momento da justiça. Ao deus que não existe. Nunca quis ser feliz. Nunca quis ver-me a sorrir. Porque considero isso, um luxo de mortais incultos. Considero o dom de ser feliz, de quem nada teme. De quem não se importa com o que o rodeia. E ainda hoje troco uma sala cheia por uma vazia. Pois não suporto. Não quero o ar sufocado com a presença de quem é feliz. Não consigo. Seguro-me a falsa imortalidade que construo. E admito que não quero mais.
MJCC (02.11.06) Simbologia feita razão