14.10.06

Passageiro Clandestino

Vejo a loucura num reflexo. São olhos de um louco sem alma, sem vontade, sem droga para saciar a sua sede. È um viciado, dependente de tudo, menos do mundo. Acabado em lixo de rua. Bêbado de gotas perdidas de vomitados de juventude viciada no álcool. O seu gozo e razão para viver… A longa espera, pela morte.
Mas ainda sabe ver, a tristeza de uma humanidade, condenada pelos seus pecados, pelos seus erros, pela sua falta de cuidado. Ao ver o mundo ameaçado, condenado, perdido para sempre, chora, pois ninguém quer saber. Ninguém se importa com a memória dos defuntos, a cinco metros do chão, repousam, consumidos e sujos de insectos carnívoros. E sem quererem saber gritam para uma plateia de gente condenada: Vamos todos morrer!
Não querem saber, não querem viver. Falam orgulhosos de um doido bêbado. Vão em grupos para a casa de banho. Morrem na sua própria criação.
Apaguei nomes da minha memória. Estava cheia. Cheia de pessoas desconhecidas, de pessoas interesseiras, de pessoas sem importância. Uma a uma, são agora, passado. Talvez um dia os confronte de novo. Por enquanto são nomes, nomes que a humanidade pergunta-me uma vez e outra, se os quero erradicar deste mundo. Digo que sim. Um longo adeus, e que façam tudo o que não fiz.
Sou passageiro, clandestino neste meu mundo. Estou fora, fora deste destino perdido em gente que não compra o bilhete, e passa a frente na fila. Contra a parede, e respeito pelo mundo. Se nem tu o irás respeitar, como podes esperar que ele te respeite a ti? Chora, pois perdeste tudo numa aposta. És o resto, o resto do mundo, feito em pedaços e morte de quem nunca fez nada mais, que tentar viver mais que seis segundos num mundo, a já muito condenado.
MJCC (14.10.06) Ressacado? Normal então…