15.6.06

Juventude Perdida

Juventude. Dou por mim a ser jovem. Dou por mim a enfrentar aquilo que o mundo me preparou. Dou por mim, em busca do meu ópio. Pois cedi. Se já não acredito num mundo justo, e igual, onde a paz é mantida não por uma crença num Deus, mas pela vontade do homem; então é porque cedi, tal como tantos outros cederam antes de mim, e quiseram ser mais um. No fundo, nunca serei mais um. Apenas alguém que admira o que o mundo oferece para esquecer esta profunda e eterna mágoa. Enfrento pois aquilo que me rodeia, definindo a juventude.
Antro de vacas e pseudo-intelectuais, prontos a rastejar pelo mínimo sentimento de prazer e admiração. Lugar coberto de sanguessugas que se intitulam de ladrões, que trocam a integridade pelo som de moedas. São o que são pelas navalhas que ceifam velhas esperanças e mundos idealizados numa noite perfeita. Não fico intimidado, e continuo a definir aquilo que me rodeia. Não posso recorrer a esse ópio, que a tantos da prazer, apenas porque o mundo que tenho não é aquele que queria receber. Não posso recorrer ao ópio para esquecer a dor. A esse ópio de beber, que nos seca a goela e nos traz falsa segurança por uma noite feliz sem abrir os olhos, mas apenas a boca. Prossigo pois. Para aqueles mais simples, fracos de alma que gostam de se embebedar, de ser quem não são por uma noite. De serem alguém que não eles próprios. Sigo para aqueles que vivem intensamente mas são uns burros, enfim temos pena. Passo por aqueles, perdidos entre ondas e camisas que apelam para a não destruição das praias. Passo por aqueles que são admirados por terem um corte de cabelo a tigela e sabem, supostamente, se aguentar sobre uma prancha. Pseudo-surfistas nojo da juventude, apenas servem para serem mais uns nesta limitada sociedade. Passo para as miúdas que mostram os seus peitos á noite, e deixam os rebarbados se prenderem em decotes exagerados e fora da proporção, apenas por um sentimento de falsa admiração. Passo pelos parvos que se aproveitam dessas raparigas, puras e inocentes, que trocam a sua imaculada virgindade por umas mãos sujas de falsa ilusão de amor eterno. Passo pelas almas daqueles que concentram o seu sucesso em pequenas pastilhas, que se dilatam num copo. São como abutres prontos a receber os restos dum corpo que já nem alma tem. Passo por aqueles que gostam de ver. Voyeurs dum diabo. Que baseiam o seu prazer olhando os outros viver. Aqueles que, como qualquer mortal, desejam aquilo que não têm. Conspiram entre si os tamanhos insuficientes, os bêbados perdidos e aqueles que como eles ali ficam, prontos a apreciar um mundo que supostamente se resolve com uns óculos a dizer Ray Ban nas hastes. Mas nada fazem, gostam de ver. São aqueles que se queixam que nada lhes acontece a eles. Eu digo, pobres coitados. Não esqueço pois, aqueles que por ai pedem dinheiro para comprar um mísero chessburger. Mas á primeira esquina compram a sua droga, e acabam por se meter em vícios que nunca deviam ter começado. Aos convencidos, filhos da mãe conseguem tudo e no fundo não passam duns parvos com olhos azuis e uma lábia nojenta. E falo novamente nos bêbados, enfrascados sem se aguentarem em pé, saem a noite para se embebedarem em álcool. O ópio do povo? Não esse ópio não se baseia apenas em bebidas fortes que secam a alma e enriquecem as faces. A por ai muito ópio com nomes como futebol, discursos políticos e outras drogas que nos enriquecem o dia a dia com notícias de tablóide e falsas ilusões de prosperidade.
O meu ópio? Que interessa? No fundo anseio por entender esta juventude em que me encontro. A famosa "Juventude perdida...", mas claro que sim. Mas enfim, não estaremos todos perdidos? Que mal tem haver mais um? Perdido nesta imensidão que é o caos humano, coberto por miras de armas apontadas a cabeças, que esperançosas, se reencontram com a queda de muros que aguentam anos a fio pela teimosia humana.
MJCC (15.06.06) Pelo meu ópio, o sonho...