6.11.06

Vida Pessoal

A criança olha-se ao espelho. A sua cara é pequena e inocente. Lágrimas caem dos seus largos olhos negros. Nunca foi amada. Nunca sobe o que é ser feliz. Todos os dias lhe batem. Todos os dias lhe cortam pouco a pouco a sua inocência. Lágrimas negras caem dos seus olhos. Não há razões para a ser feliz. Nos seus braços brancos nódoas negras surgem, dia após dia. São o seu cancro. São o custo da sua infelicidade. São o seu tabaco, a sua droga. Nunca lhe abraçaram. Nunca adormeceu em braços protectores. Nunca foi amada. E dia após alguém a viola. Alguém a maltrata e abusa do seu corpo infeliz.
È jovem esta criança. Não deseja ser rica ou famosa. Apenas quer ter uma amiga. Deseja ter uma criança com quem possa brincar. Alguém real, que não um boneco sujo e roto. Alguém real, que não um fruto da sua imaginação. Alguém real, que não a sua consciência. As vezes sonha em estar numa escola, em ter amigos, em ter alguém com quem falar, abraçar, amar. Sonha um dia, um só dia, poder ser feliz. Poder ter uma recordação alegre. O seu maior desejo é ter uma foto de alguém que a ame. Uma memória eterna de um momento feliz.
E contudo não tem. Contudo é infeliz. É doente. É impossível. E quando todos lutam para viver a sua única vida neste mundo, ela luta por morrer. Duma forma dolorosa ou não, desde que morra. È tudo aquilo que deseja. È uma morte. Por favor ela só quer morrer. Deixam-na morrer!
Ela chora. Pois hoje acabou e o amanhã traz novas violações, novas dores, novas tristezas. E ela não consegue sonhar. Adorava poder sonhar. Adorava poder fugir deste mundo. Mas não sabe sonhar. Bastam-lhe lágrimas negras de sofrimento e falta de amor. Basta-lhe ser violada e ser usada. Basta-lhe ser espancada e assassinada.
MJCC (06.11.06) Consciência usada e violada por um mundo azul