27.5.06

Solilóquio Piromaníaco

Arde. Queima. É Fogo. Gosta de mostrar que existe. Por onde passa deixa cinzas. Restos do passado que outrora foi presente. Algo que sempre pensou ter futuro, se não fosse o fogo. Destrói. Poluiu. Traz consigo uma temperatura insuportável. Faz-me soar. O fogo existe. Apesar de tudo não tem som. Não produz som. Apenas o crepitar das cinzas. Parece que o fogo anda por ai. Andam por ai muitos com a mania que são fogo. Ardem e queimam tudo o que vem. E para quê? Para continuarem vivos. Gostam de se exibir, e deixam para trás belezas destruídos que agora só tem um lugar no mundo. As cinzas? Almas destruídas. Acidentalmente condenadas para a eternidade por fazerem frente ao fogo. Basta-lhes agora dividirem-se em mil bocados, cada um mais pequeno que o outro, e desaparecerem do mundo. O alcance do fogo é enorme. Acima de tudo pelos empurrões que o vento dá. Muitas vezes injustamente, este estende-se por largas planícies indefesas. Destruindo e poluindo o mundo, andam por ai muitos fogos. Tem a sua utilidade não duvido, mas já foram ultrapassados. Apesar de tudo eles existem, líderes do mundo arranjaram maneira de queimar mais e mais, até serem um fogo eterno na contínua existência humana. A Temperatura sobe. Criaram um buraco que não querem fechar, e deixam os leigos pensarem que podem fazer a diferença. Tal é a dimensão do fogo que todos o temem. É um poder vermelho e negro, que toma tudo para seu proveito. Ninguém gosta de ter o fogo a aproximar-se de si, só significa queimaduras eternas ou morte.
No fundo, o fogo fascina-me...
MJCC (27.05.06) Porque existe...

9.5.06

Vontade de Fugir

Querer. Sim, não duvido. Ter um capricho, vontade crescente que não abandona. Negação contínua de existencialismo. Vontade de mudar. De ir... Passa pela mente de todos, pelo menos uma vez, querer fugir. Querer ser outra pessoa. Ser diferente. Desejo de ser alguém que não quem somos. Pensamos assim, essencialmente pelos erros que cometemos. Achamos que se fosse possível, começar de novo, ser diferente de quem somos, seríamos perfeitos. É horrível pensar no "se". Palavra obcecante que tolda a visão, mancha a memória.
A nossa vida, o curso das nossas acções, provem da nossa capacidade de tomar decisões.
É normal, a medida em que vivemos, podermos escolher a maneira que consideramos mais correcta de agir. Maior parte das vezes, esta depende de segundos. Por vezes de meses ou anos. Quando nos defrontamos com uma situação. E a nossa acção esta subordinada a nossa rapidez de acção. Um segundo antes, um segundo depois. Tudo ira nos afectar. E infelizmente, deparamo-nos com o "se". Ignoramos a nossa vida e pensamos no porquê. Se tivesse agido assim. Se tivesse agido mais cedo. A Vida obriga-nos a parar.
Paramos e olhamos para o que fizemos. Desculpamo-nos com um típico "Se calhar é melhor assim..." ou o clássico "Fica para a próxima." E por segundos pensamos. Somos superiores ao mundo. Pela primeira vez julgamos, temos noção que somos nós a controlar o nosso destino, a nossa vida. Que qualquer acção vem com uma reacção. E no fim, no fim de tanto pensamento, tanta dor, tanto arrependimento... queremos fugir. Dure o tempo que durar, pensamos em como seria a nossa vida, longe. Longe daqui. Longe deste vicio de quotidiano. Longe das centenas de caras que contemplamos. Longe das dezenas de segredos e mexericos que ouvimos. Longe... Longe de um mundo que julgamos conhecer. A mil léguas daqui, num lugar onde ninguém nos conheça. Num lugar onde tudo seria diferente. Abandonando este mundo. Lugar de vícios e enganos. Lugar de decisões e vontades. Lugar de acções e reacções.
Partindo, partindo sim, para um novo país. Novo lugar. Novas caras. Novas conversas. Novas oportunidades... Nova vida.
MJCC (09.05.06) Com vontade de ser útil...