20.9.06

Impressão Solar

Lavei a alma. Por segundos esqueci-me do mundo lá fora. Das preocupações que me assombram, dia após dia. Das saudades ou desejos incompletos que me queimam a mente. Dos desejos incorrectos duma vida estúpida e insignificante. Esqueci-me, por momentos, do que me preocupa. Do que me magoa. Do que me assombra.
Por segundos, estive noutro lugar. Um lugar longe, perdido no vácuo, mas cheio de tudo. Um lugar, perto do Sol, mas longe o suficiente para não queimar o meu olhar. Para não queimar os meus sonhos. Para não queimar as cinzas das minhas recordações.
Estive perto de mim mesmo. Pronto a interpretar os meus alcances e os meus encantos. Pronto a tirar partido de quem sou. Disposto, a me perguntar, o que prometi. Disposto a saber que desejo é esse, de me tatuar, com a simples palavra, “prometi”.
No meu íntimo, receio a simples menção, da minha promessa. E enfim acabei por cicatrizar, na minha alma, essa dura conclusão. A conclusão do que quero fazer. E no fundo não consigo deixar de me rir. Pois, ao que parece, não estive cá nestes últimos anos.
Esteve um sujeito qualquer, que ao que parece me tirou as convicções, os desejos, a vida. Um tipo sem nome, que se aproveitou de mim, e de todos aqueles que acreditaram em mim. Não culpo, a esse, que me controlou, os meus erros, mas culpo a mim, que nunca fui capaz, nem de cuidar de mim, quanto mais de quem me ama. Mas prometi.
Apesar de querer cumprir essa promessa, acabo por me condenar a mim mesmo. E começo a achar, que as promessas são desejos nem sempre desejados. Promessas parecem ser feitos que queremos cumprir, mas que quase nunca temos noção da sua dificuldade. Parecem ser frases declarativas, sem sentido, mas ainda com o ponto final. A meu ver, quando prometemos algo, não passamos duns parvos, com desejos por cumprir.
Acho, agora, idiota a promessa. Acho absurdo alguma vez ter prometido o que prometi. Mas não me arrependo. Não. Acho piada apenas, ao que era e ao que sou. As mudanças que se dão. E as coisas que nunca esperei acontecerem. Hoje, acordo com o desejo incompreendido de um amanhã. Um amanhã mais completo. Sem demoras em quem sou. E com pressas em quem já não temo ser.
MJCC (20.09.06) Finalmente, um ser humano.

14.9.06

Suspiro na sombra

Sorrir por obrigação. Falar por educação. Viver por opção. Vida, conjunto de leis que nos forçam a ser educados, a viver dentro dum limiar do aceitável, disposto por uma educação e princípios de infância. Sorrir a piadas secas. Falar a estranhos conhecidos. Viver, pois ainda não morri.
Fico saturado. Talvez, seja frágil ao ponto de não me habituar a esta rotina, ao ponto de não aceitar esta vida, ao ponto de não me corromper. Não considero-me invulgar. Sei, que não sou único. Inútil perante a multidão. Multidão essa, viciada em números e contas bancárias. Viciada no seu mundo privado. Viciada no seu sonho de auto realização, auto satisfação. Gente estranha esta. Com um olhar indefinido e arrependido. Arrependido? Do quê? Sabe se lá. São gente sem vida, gente sem sentido, viciada na sua mísera satisfação. Consumidora de mass media, autor de corrupção e masturbação simulada, para auto imagem pessoal. Para o seu ego. Para a sua vida simples, a desejo próprio. Gente que gosta de ter pena. Sim. Sempre prontos a verter uma lágrima pelas vitimas de, alguma coisa. Prontas a ter pena daquilo que vêem, em destaque, por noticias espalhadas facilmente pela velocidade da evolução humana. Mas ao menor momento de darem mais que apenas uma lágrima ou um suspiro de pena, trocam-no por um olhar de desprezo ou um desviar da retina, para qualquer lado, que não o de um pobre vagabundo a pedir uma moeda. Um troco do metro. Um corpo estranho, enfim, a um bolso roto e desfeito pelo tempo, convertido em bate portas e pede ajuda. Ajuda, a gente comum. Gente que trabalha dia e noite, para conseguir manter uma vida pessoal no limiar do aceitável, uma vida pessoal convertida em mexericos de uma minoria que apenas tem o sufixo de “nova” para se distinguir. È o desejo de prosseguir que as faz viver. È o desejo de dar graxa e trocar a honra por um lugar acima do comum. È um olhar de inveja e de conhecimento, de uma vida fora de pessoal, convertida em gente bem sucedida.
Continuo saturado desta confusão. De organização. De implantação celular e molecular, em busca de uma razão. Continuo insatisfeito, no meio de tanta transformação. Fusão de corpos em busca de crescer, em busca de satisfazer, em busca de impressionar. A evolução, pois convêm dar-lhe esse nome. Estou obrigado a me virar e sorrir. Obrigado a aceitar esta rotina desordenada e infestada. De sonhos e treçolhos. De vontades compradas. De caminhos sem passadeira.
MJCC (14.09.06) De volta a intitulada, satisfação familiar.