2.1.07

Louca realidade

Acredita. Acredita pois existes. Sofre. Sofre pois és humano. Luta. Luta pela vida.
Lançaste-te para o meio da multidão. Suavas por todos os lados. OS teus olhos estavam brancos. Todos a tua volta te olhavam com desprezo. Todos se afastavam de ti, como se fosses um nojo, um resto. Não sabes onde estas, arrastas-te por todo o lado. Paras e suicidaste. A tua volta o mundo continua a andar. Nada faz sentido, mas tudo continua. Todos vivem as suas vidas absurdas. Todos discutem pela futilidade estampada na sua fase. Bebem o seu segundo café do dia. Ofendem-se nas costas uns dos outros. Confessam a sua falta de cultura. E sobrevivem. Pobres coitados. Julgam-se alguém nos seus universos paralelos de inocência e ignorância. Observam pela televisão morte em directo. Abanam a cabeça e dizem a si mesmos “O mundo está louco.” E tu não estas? Vendo de fora és tu que me pareces o louco. És um louco! Sim tu, tu que és comum, tu que existes neste País! És um louco, e o maior deles todos. Sabes porquê? Porque nada fazes.
És um louco pois observas a tristeza, a corrupção e a desgraça dos outros. Gostas de ver. Não passas de um tolo. És patético. Tu mais o teu trabalho idiota e monótono. Gostas de chegar a casa. Desabafares as tuas frustrações na linha SOS. Gostas de demorar uma hora em higiene pessoal para surpreenderes quem? Nem tu sabes. Gostas de encomendar o teu jantar e comeres em frente as notícias da Tv. Esperas os seus intervalos de injecções publicitarias. Refilas pelo nada e recuperas o desespero espantado em repórteres de fogo cruzado. Dizes para ti mesmo “É o que merecem!” Vês o rosto de uma criança chorar no jornal das nove, e continuas na tua. Vês a vida de outros em “reality shows”. Curtes a primeira idiotice que te apareça a frente. Olhas o mundo falso que se cria todos os dias, para o teu entretenimento. E deitaste e adormeces para mais um dia igual.
És um louco. És o pior deles todos. És louco pois trocas a tua integridade por segundos de entretenimento. És louco pois consumes aquilo que o teu País te dá, e o teu único momento de revolta é um voto no teu partido favorito. És louco, pois não tens cultura, inteligência, ou mesmo coração. Irás chorar no dia em que morreres. No dia que perceberes a maneira estúpida como desperdiçaste a única vida a que tens direito. E nesse dia, eu quero estar lá. E sem dúvida lá estarei. A olhar para o espelho e a perceber que somos a mesma pessoa.
O mesmo louco a morrer na sua inutilidade e ilusão.
MJCC (02.01.07) Procura-se tratamentos domiciliários e cultura em vacinas